sinto saudades da sua sofreguidão. mentira. não da sua. da sofreguidão. dos olhos fechados e do corpo que se mexe apesar de mim. do corpo que eu entreguei e abri. eu, tantas vezes fechada em mim, desconfiada, medrosa. eu que não confio em gente. eu sinto falta disso. do dedo que tira o cabelo que cai no olho. e meu cabelo sempre cai no olho. do riso que desce o rosto ao olhar pro meu rosto. de dedos que se encontram “sem querer” no meio da mesa. do reconhecimento de poucas horas. pouco tempo. pouco tudo. sinto saudades dessa minha evasão. eu que sei pouco me evadir fora da ficção. sinto falta de realidade.
hoje fiz ginástica. 20 minutos. brinquei que as coxas não entram nas calças porque foi muito agachamento. o corpo precisa se mover, e a ginástica é o que tem pra hoje. ouvi música e dancei sozinha em casa. dançar é se entregar também. é não pensar onde o pé vai estar. quando eu ia no forró todo dia. eu me sentia mal, por achar que não sabia ser guiada. fui descobrindo que, de forma fantástica. é via de mão dupla. como todo o resto. e eu não gosto de ser guiada. eu tenho imensa dificuldade de confiar. mas raramente. um dia ou outro. um sorriso com o rosto abaixado ou outro. eu apago tudo isso que estou falando esses dias. e quero ver mais. quero sentir mais.
eu sinto falta do abraço que me permite ver mais. sentir mais. do beijo que me pega o rosto. das mãos que me abraçam a cintura. apertam a bunda. sinto falta de todas as sensações de estar com alguém. e ao mesmo tempo não tenho tido vontade de estar com ninguém. sinto falta das mãos. da língua. do pau. do riso. sinto falta de acordar ouvindo a voz de alguém rindo pra mim. de dormir com o peso da pessoa. do sono tranquilo e da ansiedade de pensar o que eu faço no dia seguinte. sinto falta de não saber quem eu sou uma hora ou outra. na falta disso. abro as pernas e dou outros passos. e penso demais. e penso sem objetivo. e hoje. só hoje. vou dormir. e fechar os olhos e pensar no que sinto falta. e não pensar em mais nada.
