passado

Antonia
2 min readNov 11, 2021

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eu tenho pensado no passado. sonhado com o passado. sonhado com encontrar saídas. não tenho visto saída nenhuma, na verdade, acordo antes. vivendo nesse mundo, faz todo sentido, estou elaborando a realidade como dá. tenho pensado em escrever muitas coisas. pensado que são exposição demais e não sei se quero.

quando eu saí de você. achei que todo mundo era como você. era como eu sabia me relacionar com o mundo. a imensa paixão e inconstância. percebi que fora só havia a inconstância. e um certo descuido. um descuido que me deixa muito assustada alguns dias. eu tive sorte nos meus azares. nas minhas paixões. ou não. foi tudo demais pra mim e pra você. eu disse que não ia me expor.

o mundo é complicado e nele as pessoas aparecem como estão. como são, talvez. elas não sabem mais cuidar. elas perderam o ouvido. eu ando enfastiada. não porque eu precise ser ouvida, ou não só por isso. há quem precise mais do que eu. não estou aqui para ter certezas ou afirmar o mundo. eu nasci para fazer perguntas e me perder nas respostas. e ainda me pego, como aos cinco anos, olhando pra alguém e perguntando “mas por quê?”. por que há bilionários? por que querem ir pra lua? por que alguém não pode abrir mão de nada? eu aprendi a abrir mão desde muito cedo. faço a piada de que foram 8 irmãos. era isso ou isso. e eu era uma das duas meninas. a mim, era permitido muito além do que era proibido. uma individualidade que aos meninos escapava. eram o coletivo. eu percebo que a eles ser indivíduo era necessidade. a mim era fato.

o mundo é complicado e tem dias que eu queria dar uma bronca em todo mundo. ouvir todo mundo. acolher todo mundo. olho pra ele, dizem, com o mesmo olhar esbugalhado de quem não está entendendo nada. eu não estou entendendo nada. eu queria entender. fechar o texto. entender o personagem. as histórias reais não são ficção. a ficção me consola. ela faz sentido. ela tem justificativa. história. personagens, mesmo os profundos, fechados. eu sei lidar com eles.

eu tinha de lidar com eles. eu preciso escrever tanta coisa, fazer tanta coisa. e a verdade é que eu queria, hoje, berrar. dizer que eu sinto falta do que nunca tive e tentei ter. da calma. dessa certeza que alguns têm do lugar em que pisam. o mundo é terremoto pra mim. instável. como eu achei que era pros outros. aprendi que não. que há estabilidade para alguns. não faz sentido. nenhum. mas há. e eu olho calmamente. e espero. porque é mentira. o instável chega. a certeza parte. e eu estou aqui. aprendendo ainda que não é essa quebra que precisa me fazer odiar a tentativa.

eu tinha um motivo para escrever que me passou. o mundo é complicado e nada parece funcionar. eu tinha um motivo pra escrever. falar que o mundo anda parecendo imutável e isso é insuportável. mas eu preciso respirar. me sentar. escrever. e lembrar que eu ainda quero perguntar.

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