ando imensamente cansada. sem vontade. sem acreditar. é uma tristeza voluntária talvez. eu sinto falta de muita coisa e estou angustiada com um outro tanto. eu não confio nas pessoas e é estranho perceber isso. eu espero a porrada. eu vivo na defensiva. como se o mundo fosse esse espaço esperando pra me ter de presa. eu nunca consegui acreditar em outro espaço, acho. analista me deu um puxão de orelha. eu ouvi e reitero. eu não sei, hoje, sair disso. eu quero dormir e não acordar.
eu queria saber. acreditar. me sentir acolhida. eu queria não achar que vou cair e quebrar a cabeça. como quando eu era pequena. cair e não saber como levantar. eu tenho medo de pular. minha vó tentava me ensinar a pular. eu tinha medo de me machucar. eu tenho medo de me machucar. e eu sempre me machuco. eu não sei pular. eu preciso pular. pela milésima vez na vida eu preciso dar o passo e deixar pra trás tudo. como todas as outras vezes. a metáfora nunca se encaixou em mim e isso me incomoda. não tenho como refazer a metáfora.
eu deixei pra trás uma formação. duas. três. eu peguei de novo e refiz. remontei, como um quebra-cabeças. eu deixei pra trás quem me interessou. por não confiar em mim. eu deixo pra trás e tento não pensar. a cabeça quebrada. a cicatriz visível. a fala angustiada. os pés que não sabem onde vão. o medo. o medo de gente maior que o medo de altura. gente não gosta de mim. minha vó gostava, eu penso. minha mãe. não sei. hoje eu queria sumir. me esconder e nunca mais falar com ninguém. sumir. ir pra onde nunca ninguém me viu. e continuar. sem ninguém.
eu lembro como era estar com alguém e não sei se algum dia quero outra vez. se algum dia eu quis. eu não estou confortável. as cicatrizes crescem. esse é apenas mais um texto de autocomiseração em um dia. em que eu queria um abraço. um beijo. alguém que não falasse nada. estivesse ao meu lado. segurasse minha mão. alguém que me fizesse acreditar. nisso tudo que nunca consegui acreditar. nem quando eu estive com alguém eu pude acreditar. que queria estar comigo. ali. do meu lado. que eu sou alguém que vale a pena. tudo isso passa e vai passar. vou dizer que está tudo bem e fazer meu trabalho. vou ler e pensar o que estou fazendo. vou falar sobre o mundo e sobre tudo isso que está tão longe de mim e falar que eu acredito no outro. e nada disso vai ser mentira. eu tenho pouca fé em mim. nenhuma fé em mim. e certa certeza de que as pessoas mentem. e de que amanhã eu vou saber e ficar, como sempre, sozinha. quebrada. colando os cacos. que nunca colam.
